sexta-feira, 13 de março de 2009

Um pouco sobre o professor de gastronomia

Hoje foi um dia muito especial pra mim, pois estou numa fase muito importante de minha dissertação de Mestrado. Iniciei as entrevistas com os professores que serão meus sujeitos de pesquisa. Entrevistei uma amiga e professora muito querida e experiente na área docente, a profa. Mércia. Esta foi a primeira de várias entrevista que farei.
Quem me conhece sabe que muito me intriga a formação do professor de Gastronomia. Quais os saberes que transitam por este profissional da educação.
Então para aproveitar o clima de formação, publico um artigo que escrevi em 2008 sobre formação docente.

NOVOS SABERES DOCENTES NOS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA
Rosana Fernandez Medina Toledo[1]
rftoledo@uol.com.br

A discussão sobre os saberes docentes, desde a década de 1980, toma uma proporção pedagógica relevante, pois muito se pergunta: - quais os saberes que um professor tem que ter para ensinar e aprender os conteúdos escolares? – como são esses saberes? – adquiridos em formação universitária? – ou ao longo de suas experiências?
Este artigo recorta alguns conceitos sobre saberes docente e experiências de vida que os docentes levam para sala de aula.
Hoje há novas tendências no mercado educacional universitário que exige profissionais com prática nas áreas de atuação. São os cursos superiores de Tecnologia que se inserem nas IES e buscam profissionais que mostrem o mercado de trabalho e sejam professores.

Palavras-chaves: saberes docentes – experiência de vida – experiência profissional – cursos superiores tecnológicos.

A FORMAÇÃO DOCENTE
Maurice Tardif relata em sua obra Saberes Docentes e Formação Profissional, que:

“... um professor é, antes de tudo, alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir esse saber a outros.” (Tardif, 2002, p.31).

Marie-Christine Josso relata que:
“... os lugares de formação sejam eles orientados para uma perspectiva de desenvolvimento pessoal, de desenvolvimento de competências sociais ou ainda para uma perspectiva de formação profissional, acolhem pessoas cujas expectativas e motivações a respeito de sua formação referem-se às problemáticas de posicionamento de suas vidas e de sua ação nas sociedades em plena mutação, assim como a problemática de compreensão dessas próprias mutações.” (A formação na perspectiva biográfica como processo de construção do sujeito e de suas identidades, in O sujeito na educação e saúde, 2007, p. 105).

As discussões a respeito da formação de professores, partem de uma teoria de que a formação se dá por uma perspectiva de vida, que cada ser humano possui uma história de vida que não pode ser desvinculada de sua prática enquanto docente.

Os caminhos desta formação transitam por momentos autobiográficos e que têm relevância na vida do sujeito e que, não são abandonados ou renegados no processo de formação.

Percebe-se o trabalho do professor norteado de saberes que não se limitam somente à transmissão de conteúdos e conhecimentos técnicos. O professor está preocupado, além do saber-pensar, também com o saber-fazer.

Em TARDIF (2002), relata-se que a relação dos docentes com os saberes não se reduz a uma função de transmissão de conhecimentos já constituídos.

Aprender a ser professor e ensinar vai muito além de conteúdos trabalhados nos cursos de formação de professores, pois há aspectos do processo de aprendizagem que têm caminho próprio.

Percebe-se que nos dias atuais os professores constroem e reconstroem seus saberes a todo instante, por meio de sua vida e suas experiências. Hoje a prática docente não se reduz aos conteúdos das ciências da educação, eles podem ser abordados por outros saberes incorporados a uma educação pedagógica, que seja legitimada cientificamente.

Em TARDIF (2202), JOSSO (2004), relatam que os saberes docentes são também saberes experenciais, que é entendido como “o conjunto de saberes atualizado, adquiridos e necessários no âmbito da prática da profissão docente e que não provém das instituições de formações nem de currículos”. (Tardif, 2002, p.48)

Sendo assim os saberes docentes se modificam com o passar do tempo, assim como mudam de acordo com a função exercida.

Resumindo, hoje pensamos numa formação docente investigativa e objetivada pela trajetória de vida de cada sujeito, logicamente sem perder o repertório necessário aos conhecimentos básicos de uma ação docente.

OS PROFISSIONAIS, PROFESSORES DOS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA
Os cursos superiores de tecnologia ocupam uma área conhecimento emergente no Brasil, porém assumem uma importância significativa no processo de formação de graduação superior tecnológica, de capacidades técnicas, justamente por possibilitar uma formação técnica impregnada de seus ingredientes socioculturais e profissionais da área.
Os cursos superiores de tecnologia são focados em um campo de atuação e privilegiam a educação profissional. Seu objetivo maior é preparar o educando para o mercado de trabalho, o que faz com que sejam mais profundos se comparados com os cursos tradicionais de graduação, que são considerados mais generalistas. São cursos também procurados para quem já está inserido no mercado e pretende aprimorar sua carreira. Os cursos superiores de tecnologia não devem ser confundidos com os cursos técnicos, pois os cursos tecnológicos são cursos superiores de graduação enquanto os cursos técnicos são em nível de ensino médio e não permitem ao formando continuar seus estudos em cursos de pós-graduação, lato sensu e stricto sensu.
Hoje no Brasil, neste formato, encontram-se os Tecnólogos em Gastronomia, Estética, Visagismo, Design de Interiores, Eventos, Produção Publicitária, Negócios Imobiliários, e também cursos que até então ocupavam somente os bacharelados, como: Turismo e Hotelaria, além dos voltados à gestão: Financeira, Comunicação e Marketing, de Recursos Humanos e tantos outros constantes no Catálogo Nacional dos Cursos Superiores de Tecnologia (MEC, dezembro, 2006).
Pensando no docente destes cursos, abordarei um pouco sobre a Gastronomia, se bem que as considerações aqui explicitadas podem fazer parte de todo universo docente dos cursos superiores de tecnologia, os tecnólogos.

Sabor e cultura: essa é a mistura que faz da gastronomia uma das profissões mais procuradas do momento. O docente mostra como um prato possui história e sabores singulares, como está ligado a sua cultura de origem e a memória gustativa de um povo. Trabalhar história, antropologia, sociologia, química nas aulas é primordial para a formação do tecnólogo em gastronomia.
Por se tratar de um curso novo, os profissionais contratados para ministrarem aulas surgem das mais diversas formações; pois hoje temos professores de Gastronomia, arquitetos, veterinários, administradores, advogados e tantas outras. Apesar da experiência profissional no mercado de trabalho, não possuem a formação específica para a docência.
Diante deste cenário temos um como parâmetro as categorias propostas por Tardif, que relata que o processo de aprender e educar não se restringe à formação escolar que lhe concede o título de docente.
“Os saberes profissionais dos professores parecem ser, portanto, plurais, compósitos, heterogêneos, pois trazem à tona, no próprio exercício do trabalho, conhecimentos e manifestações do saber-fazer e do saber-ser bastante diversificados e provenientes de fontes variadas, as quais podemos supor também que sejam de natureza diferente”. (Tardif, 2002, p. 61).

No entanto é sabido que os conhecimentos educacionais e pedagógicos são aspectos importantes na construção da identidade profissional do docente. Mas acredito que o docente possa associar esse aprendizado no decorrer de sua trajetória, paralelamente aos seus conhecimentos técnicos e profissionais aos quais se insere.
Os saberes docentes incorporam-se à vida do professor à medida que vão sendo mobilizados pelo seu trabalho diário e deste modo constituindo a sua identidade profissional.
“A socialização é um processo de formação do indivíduo que se estende por toda história de vida e comporta rupturas e continuidades”. (Tardif, 2002, p. 71).
No saber docente está o saber ensinar e aprender. É importante considerar o docente na sua dimensão maior de interação com a sociedade e com seu próprio conhecimento para que sua atuação seja compreendida.
“Para pensar em formação de professores, neste momento... devemos levar em conta os avanços culturais e o surgimento dessa nova subjetividade. Não podemos mais pensar em um professor abstrato, genérico, não podemos mais acreditar, de maneira ingênua, que formação dos professores acontece somente nos espaços destinados a esse fim”. (Furlanetto, 2004, p. 14).


Temos, portanto uma nova dimensão a ser considerada na formação docente e a inserção destes profissionais nos cursos tecnológicos, já que o objetivo principal desta modalidade de ensino superior é além da formação acadêmica, a inserção regulamenta do educando no mercado de trabalho.

Referências:

BRASIL. Educação profissional e tecnológica: legislação básica. 6ª ed. Brasília, 2005.
______Site www.mec.gov.br, acesso em 04/11/2007.

______Catálogo Nacional dos Cursos Superiores de Tecnologia. Brasília, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Profissional e Tecnológica. 2006.

FURLANETTO, E.C. Como nasce um professor? 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2004
JOSSO, M.C. A formação na perspectiva biográfica como processo de construção do sujeito e de suas identidades; in ROSITO, M.M.B. e MORENO, L.V.A. O sujeito na educação e saúde, desafios na contemporaneidade. São Paulo: Loyola, 2007.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 7ª ed. São Paulo: Vozes, 2002.

[1] Professora universitária de Gastronomia da Universidade Paulista _ UNIP- e Universidade Cruzeiro do Sul, em SP; Mestranda em Educação pela UNICID-SP.

2 comentários:

  1. “Para pensar em formação de professores, neste momento... devemos levar em conta os avanços culturais e o surgimento dessa nova subjetividade. Não podemos mais pensar em um professor abstrato, genérico, não podemos mais acreditar, de maneira ingênua, que formação dos professores acontece somente nos espaços destinados a esse fim”. (Furlanetto, 2004, p. 14).
    A esta análise eu me atrevo a dizer que o escrito deve ser aplicado a formação se considerarmos que todos somos educadores em potencial. E ainda concordando com uma pedagoga amiga ser professor/educador é um sacro-ofício.
    Abçs.Linda

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  2. Ps: a formação em geral não só de professores.

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